25.9.09

Comemorando a vida - Por Vânia Moreira Diniz

Acordei com uma tênue luz a iluminar meu quarto completamente na penumbra. Gosto de dormir na escuridão total. E portanto à noite, nas madrugadas, quando me encaminho para o quarto tonta já de sono encontro no escuro paz e relaxamento.

Nessa hora senti a claridade num fio insignificante da cortina.E lentamente, os olhos ainda fechados e procurando o sono que queria me deixar, vi de relance uma figura esguia que só costumava vislumbrar na minha adolescência.

Foi tudo muito rápido e não pude curtir os pensamentos que deviam acompanhar essa aparição estranha.Lembrei-me então dos momentos de nossa infância e adolescência, as brincadeiras infantis, os arrebatamentos que nos acompanhavam e até mesmo os perigos que rondavam e que era motivo de risos e alegria.

Impressionada com a força daquele pensamento que me fez ver alguém que já há muito se fora em plena mocidade, perguntava-me o porquê daquela impressão estranha. Jamais acreditei em aparição de espíritos e por isso sabia que talvez devesse ter sonhado com minha predileta amiga de infância.

Aproveitei, para deitada ainda recordar os dias magníficos, os passeios na avenida atlântica, a praia ali em frente, e a torcida para que acabássemos os deveres escolares e pudéssemos nos tostar ao sol do posto 6 , as ondas que nos jogavam longe, nossos corpos seminus molhados e agradavelmente aquecidos, depois enquanto tomávamos sorvetes  procurávamos bem ao lado alguém vendendo cachorro-quente.

Nas férias, os passeios, as viagens, campeonatos de patins, o violão nas reuniões de nossa turma, nossa vozes a entoar cantigas e músicas que ardiam o coração, os filmes em sucessão na Avenida Copacabana , o teatro, as danças, brincadeiras de transformação, as caronas escondidas dos pais nas motos dos rapazinhos, e o castigo quando éramos descobertas, o Jornalzinho que elaborávamos cheias de garra, as notícias que preparávamos prontas a motivar todos que lessem, os livros que trocávamos e procurávamos sempre delirante de curiosidade.

Minha amiga morreu garota deixando no ar a força de sua amizade, seu bom-humor permanente e aquele brilho que resplandecia quando ela aparecia em qualquer lugar.

Hoje minha memória a captou, e recordando-me agora lembro que hoje seria o dia de seu aniversário, comemorado sempre em explosões de animação e felicidade.

Acordei com dor de cabeça, entristecida pela lembrança saudosa e agora nesse minuto tomo consciência de que devo me alegrar porque ela estaria aqui falando, exigindo sorrisos, estimulando entusiasmos, instigando a sedução dessas horas, gargalhando naquele modo natural, os olhos bonitos brilhando sempre como se refletissem uma luz que jamais se extinguiria em nenhum momento da vida.

Seu aniversário era fim de setembro e como o meu era em outubro fazíamos duas festas lindas e como ela dizia: “Precisamos comemorar a vida!” Com que terna exuberância fazíamos todo mundo rir, nesse período que nos fascinava em descobertas e loucuras mil, aturdidas e inebriadas.

Vou comemorar a vida que ela deixou quase com alegria oferecendo seu meigo sorriso e entendendo que chegara sua hora, embora cedo demais.

Quero hoje, agora e nesses meses de setembro e outubro comemorar a vida!

Vânia Moreira Diniz

Um comentário:

  1. Mana que bonito. Quem tem muito a recordar, tem muito a vislumbrar por entre as manifestações das pessoas queridas que se foram. Mas como seu texto diz, estas manifestações sempre nos recordam a celebrar a vida. Belas recordações? Repetem-se em nossa memória e em nosso coração. Que lugar melhor teria elas para existir e se renovar? beijão

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